A Andorinha e a Oliveira. – Uma Metáfora para crianças e adultos.

A Andorinha uma metáfora para crianças por António Ferreira - Coach Parental

Escrevi este texto sobre uma Andorinha e uma Oliveira muito especiais há cinco anos porque aceitei na altura um desafio que me foi lançado pelo Pedro Vieira e sobretudo porque me encantou a ideia de escrever algo que pudesse ajudar-me a programar o inconsciente do meu filho para que seja sempre ele próprio, fiel aos seus valores, para que supere medos, não entre em comparações e viva com muito propósito.

Criei assim um texto composto por várias metáforas entrelaçadas, que estimulam o processo criativo tanto de quem a narra (os pais) como de quem a escuta (os filhos), estimulam a reflexão e a mudança e que funcionam perfeitamente porque falam ao inconsciente usando uma linguagem universal que apresenta um mundo de possibilidades.

Histórias como esta, são bonitas e fáceis de entender porque a forma como as metáforas são utilizadas para contar a história facilitam a compreensão da mensagem a qualquer pessoa, mesmo que não seja letrada (como uma criança pequena).

O poder de histórias como esta é que são eternas e agora um desafio que eu aceitei e agarrei há 5 anos, para criar algo que pudesse programar positivamente o inconsciente do meu filho, posso agora eternizar partilhando-o contigo para te ajudar a programar positivamente o inconsciente do teu. Porque tu já estás a programa-lo, então é bom que estejas consciente da programação que lhe fazes e possas escolher algo que o torne mais forte, confiante e com uma auto-estima mais saudável.

Convido-te a ler agora a metáfora da Andorinha e da Oliveira:

 

– Vamos Gualdino, está na hora. Hoje é o dia em que te tornas numa verdadeira andorinha!

– Vou já pai, deixa-me só despedir-me da Virgínia mais uma vez.

– Despacha-te! Não ouves o bando?

– Vou já!

De facto ele nunca tinha ouvido o bando chilrear assim, era algo áspero, estridente, era sem sobra de dúvida um chamamento.

Gualdino era uma andorinha, uma andorinha-dos-beirais para ser mais preciso. Bem, para ser realmente preciso ele não era bem uma andorinha-dos-beirais, a sua mãe é que era. O seu pai biológico era uma andorinha-das-chaminés que se meteu no ninho de sua mãe enquanto seu pai de criação estava a caçar. Seu pai era conhecido pelo seu enorme coração e pela sua sensatez.

Gualdino tinha tudo para ter sido abandonado, para além de ser bastardo era uma cria de terceira ninhada, o que fazia com que tivesse tido muito menos tempo para se desenvolver e estar fisicamente preparado para voar até África o que por norma faz com que as andorinhas abandonem estas crias. Mas seu pai cuidou dele e fez questão que sobrevivesse, pois afinal de contas ele era filho de sua amada e as andorinha-dos-beirais ficam juntas para toda a vida, porque ficam juntas por amor.

As andorinha-dos-beirais são uma espécie geneticamente poligâmica apesar de socialmente monogâmica e portanto como ele tinha pouco de hipócrita e muito menos de santo, aceitou bem Gualdido. Caçou para ele, cuidou dele e apresentou-lhe Virgínia, uma Oliveira anciã que para além de lhe dar poleiro e alimento, deu-lhe carinho, atenção e na sua sabedoria ensinou-lhe as duas maiores virtudes para a sobrevivência, paciência e persistência.

Ensinou-lhe que só com paciência e persistência iria dominar a arte do voo exímio que só as andorinhas conseguem e que faz com que até as Ógeas tenham dificuldade em caçá-las.

Ensinou-lhe que só com paciência e persistência iria ter a agilidade e destreza para conseguir caçar em pleno voo os insectos que pairavam em redor de Virgínia.

Ensinou-lhe que só com paciência e persistência iria ser plenamente aceite pela sociedade, pois a sociedade tem tanto desdém pelos diferentes quanto inveja e admiração e a passagem do desdém à admiração, passando pela inveja, só se consegue com o tempo.

– Adeus Virgínia tenho mesmo de ir, está na hora.

– Adeus meu querido, até para o ano.

– Tenho tanto medo…

– É natural meu querido.

– O que que faço? A viagem é tão longa, eu sou tão pequeno, as outras andorinhas são todas maiores que eu. Não consigo deixar de ter medo.

– É natural meu querido.

– O que é que devo fazer para deixar de ter medo?

– Nada meu querido.

– Mas assim continuo com medo.

– Pois continuas meu querido.

– Mas eu com medo não consigo partir e o bando não espera por mim.

– Gualdino, nada é aquilo que parece, estamos em Dezembro e por norma o bando deveria ter partido até ao final de Outubro, este ano o Outono tem sido muito ameno e o teu pai tem tentado atrasar a partida do bando o máximo que pode. O universo conspira para o teu sucesso.

– Achas? Ele está-me sempre a dizer que está na hora de partir, que se quer ir embora. Porque é que agora estás a dizer-me que ele tem tentado atrasar a partida do bando?

– Meu querido, o teu pai é pai e tal como a maioria dos pais os maiores feitos que fazem pelos filhos resultam de um acto de profundo amor incondicional. Portanto o objectivo dele não é que tu saibas o que ele faz por ti, o seu objectivo é que tu tenhas uma vida longa e plena. Assim, nestes últimos meses o seu objectivo foi atrasar o bando e apressar-te a ti.

– Acho que estou a perceber… Mas como é que eu faço para deixar de ter este medo?

– Nada Gualdino, o medo faz parte.

– Faz parte? Como é que faz parte? O que faço eu com este medo?

– Aceita-o.

– Aceito-o?

– Sim meu querido, aceita-o e agradece-lhe.

– Aceito e agradeço-lhe? Como assim? Não estou a perceber nada! Porque é que eu vou aceitar e agradecer a algo que me congela e me impede de fazer o que tenho de fazer?

– O medo é um precioso aliado, ele está constantemente atento a todos os possíveis perigos e trava-te para garantir a tua sobrevivência e para garantir que não percas aquilo que já tens.

– Mas se ele me trava como é que consigo avançar?

– Aceitas o medo e agradeces-lhe por estar aí a alertar-te. Conversa com ele e pergunta-lhe se estás neste momento em perigo de vida ou se estás apenas em risco de perder algo. Sabes meu querido, o medo protege-nos tanto que às vezes prefere manter-nos numa situação menos boa e com tendência a piorar mas que por ser conhecida torna-se aparentemente mais segura que o desconhecido.

– Então o que lhe digo?

– Agradeces-lhe o seu cuidado, explicas-lhe que estás ciente dos perigos e desafios que poderás encontrar e que ao ficares aqui, ao não seguires o seu coração, a tua natureza, o teu propósito, vais começar a morrer por dentro pelo que mesmo que conseguisses sobreviver aqui no Inverno a tua alma iria morrer sem tu te dares conta. Ficares aqui significa a morte pois mesmo que sobrevivas, o que é praticamente impossível, viverás morto.

– Achas que ele me vai ouvir?

– Fala com ele, aceita-o, agradece-lhe e tranquiliza-o. Vais ver que ele irá dar-te coragem e a coragem irá dar-te bravura para superares as maiores dificuldades e a astúcia para passares despercebido pelas Ógeas no meio do bando.

– Ógeas? O que é isso, uma espécie de gato?

– Não, são aves de rapina.

– Nunca vi isso aqui em Santa Iria.

– Sim, agora aqui não há mas já ouve há muitos anos atrás. No entanto é provável que as encontres pelo caminho, mas tu terás a astucia para passares despercebido no meio do bando. Afinal de contas as outras andorinhas são todas maiores que tu…

– Achas mesmo, Virgínia?

– Sim meu querido. Vai, está na hora, agora é o momento.

– Obrigado por tudo. Sabes tanto…

– É da idade, faz-nos aprender. Costuma-se dizer que é melhor aprender com os outros do que connosco próprios e eu estando aqui parada tenho aprendido muito com quem me visita, tal como aprendi contigo. Vai, está na hora, agora é o momento.

– Então adeus Virgínia.

– Até à Primavera Gualdino.

Gualdino voa para junto do seu bando e rapidamente sintoniza o seu radar. Passado algum tempo de voo sente uma sensação estranha como se deixasse de ser apenas ele e passasse a ser parte de uma consciência colectiva. Já não era a andorinha híbrida de outros tempos.

No bando ninguém era ninguém e todos eram alguém.

Eram todos parte de uma consciência colectiva universal, unidos por amor, todos eram um e um eram todos.

No fim do Inverno Gualdino já sobrevoava Portugal, não via a hora de chegar a Santa Iria para contar todas as suas aventuras e crescimento a Virgínia. Esta sensação intensificou-se ainda mais ao passar por Ferreira do Alentejo, pois viu um Olival tão grande como nunca tinha visto. Contaram-lhe que era o maior olival do mundo e tinha sido plantado pelos humanos.

Curioso, Gualdino decidiu poisar e falar com algumas Oliveiras que lhe explicaram que eram intensivas. Eram muito ajudadas por humanos e isso acelerava muito o seu desenvolvimento. Assim, ao contrário de Virgínia que só deu as suas primeiras azeitonas quando completou sete anos, estas no primeiro ano já haviam dado algumas azeitonas e aos três anos já estavam carregadas de frutos. No entanto achou-as demasiado vazias e pouco interessantes pelo que passado pouco tempo voltou para o céu para se juntar ao seu bando.

Mais tarde explicaram-lhe que aquelas oliveiras deixam de dar azeitonas com quinze anos e ai é praticamente certo que os humanos as matem. Afinal de contas os humanos são pastores e os pastores cuidam e protegem o seu rebanho mas com o objectivo de levar à morte aqueles que cuidaram e protegeram. Explicaram-lhe também que seu pai o havia apresentado a Virgínia por ser Oliveira, mãe de milhões de frutos e como tal muito sábia.

Foi Virgínia que sugeriu a seu pai colocar-lhe nome de Gualdino, pois certo dia tinha ouvido dois humanos a falar sobre um tal de Gualdino que era um pouco diferente da maioria dos outros seres humanos. Diziam até que tinha uma deficiência, mas a verdade é que tinha sido considerado o melhor do mundo no seu ofício e até havia sido já condecorado pelo Presidente da República que é uma espécie de chefe do bando dos humanos de cada país.

Assim, sempre que chamassem o nome Gualdino iriam ter em mente que ser diferente é um dom que o universo nos dá. Sempre que Gualdino ouvisse o seu nome iria lembrar-se que sempre que tentar ser igual aos outros, menos será igual a si mesmo e quanto mais for igual a si mais especial se tornaria e disso Virgínia sabia bem pois era uma das oliveiras mais antigas do mundo, tinha mais de dois mil oitocentos e cinquenta anos.

Agora ele percebia a razão da sua sabedoria, era a experiência e o contacto com muitas vivências.

Ao atravessar o Tejo, pensou naquelas Oliveiras criadas pelos Humanos para viverem à pressa e morrerem à pressa.

Pensou em tudo o que os humanos fazem à pressa, dos atalhos que utilizam em todas as áreas das suas vidas para ter um resultado rápido.

Um resultado à pressa…

Com um fim à pressa…

TEXTO ORIGINAL de: António Ferreira – Coach Parental

Esta foi a minha contribuição de hoje para a Comunidade Pais Mais Ligados, agora quero ver a tua! Gostava muito que lesses esta metáfora ao teu filho. Aproveita este artigo para manifestares a tua opinião ou até mesmo para abrires um debate sobre o tema. Se este artigo fez sentido para ti e achares que possa ajudar alguém, por favor partilha.

Com amor,

António

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