
Só levei o meu filho ao circo uma vez e não gostei nada.
Há cerca de dois anos o meu filho apareceu-me em casa todo entusiasmado com um bilhete de circo. Estava todo contente pois tinham ido ao seu jardim-de-infância uns palhaços oferecer entradas para um circo que acabara de chegar.
No bilhete dizia que era válido para uma criança desde que acompanhada por um adulto e eu pensei «espertos, o miúdo tem o bilhete oferecido e agora eu ou a mãe temos de ir com ele».
Não estava muito entusiasmado pois apesar de adorar a arte circense, há duas coisas que não gosto nada, o Palhaço Rico a gozar e humilhar o Palhaço Pobre e os espetáculos com animais. Mas ele estava tão entusiasmado com o presente que tinha ganho que contrariado lá fui.
Tudo correu como eu previa, ou seja, adorei os malabaristas, os acrobatas, detestei ver as crianças a divertirem-se a ver o Palhaço Rico a gozar e humilhar o Palhaço Pobre e senti um enorme desconforto com o espetáculo dos animais pois apesar de nunca ter aprofundado o tema sabia que as duas formas mais comuns de ‘ensinar’ os animais é infligindo-lhes dor, ou fazendo-os passar fome. Então eu sabia que cada graça que um animal fizesse o mais provável seria que ele estivesse a fazer aquilo porque sabia que se não o fizer doi e doi muito. Se não fosse isso então seria por estar tão desesperado de fome e saber que a única hipótese que comer alguma coisa é fazer aquela ‘graça’.
No intervalo houve a parte onde, por uma gratificação, os meninos podiam ir tirar uma fotografia junto aos animais e apesar do meu filho me ter pedido para ir disse-lhe que não, pois estava mesmo muito desconfortável com toda aquela situação e mesmo muito arrependido de ter acedido ao seu pedido e ter ido.
Quando o intervalo termina, chega uma criança com o pai da tal sessão fotográfica muito feliz e conta à sua mãe que tinha ficado na bancada, que durante o espetáculo estava muito ansiosa por causa do chicote nos cavalos, mas o senhor do circo explicou-lhe que os animais são diferentes das pessoas pois têm uma pele muito dura pelo que as chicotadas para os animais são como festas para os humanos e é a forma que o artista tem de lhes agradecer por se portarem tão bem. A mãe fez um sorriso forçado, de quem não queria desapontar a filha, tal como eu aceitei ir ao circo porque não quis desapontar o meu.
Este episódio teve um profundo impacto em mim e isso fez-me pesquisar sobre a realidade do circo para que da próxima vez que o assunto surgisse com o meu pimpolho, eu tivesse informação clara e fundamentada para lhe explicar porque é que eu não iria mais com ele a um circo que tivesse animais.
Não foi preciso pesquisar muito para perceber que a realidade dos animais no circo era muito pior que eu julgava.
Para encurtar uma história muito longa e muito triste, animais são brutalmente raptados, passam fome, sofrem violências e humilhações horríveis. Estão confinados e transportados de formas totalmente desadequadas que os faz levar literalmente à loucura.
Tudo isto para entreter o meu e o teu filho…
Faz sentido?..
Faz sentido ignorar o que acontece?
Faz sentido fingir que não se passa nada?
Faz sentido ensinarmos aos nossos filhos que devemos tratar bem dos animais e depois levá-los ao circo ver animais à beira da loucura e em pânico pois sabem que se não fizerem o que lhes mandam vai doer e doer muito?
Faz sentido?
Se calhar não faz sentido, se calhar estou a exagerar, se calhar estou a ser pouco tolerante e até um pouco fundamentalista.
Será que se um dia souberes que o teu filho foi vítima de bullying serás assim tão tolerante como tens sido relativamente aos animais no circo?
Se o teu filho for vítima de bullying talvez também devas deixar passar, pois tal como um leão, um elefante, ou um chipanzé, o que acontecer ao teu filho será apenas um azar. Será apenas o resultado de estar no sítio errado à hora errada e por estar em desvantagem de forças será o escolhido para ser humilhado e agredido. Quem o agredir e humilhar, no fundo não é má pessoa, tu também já estivestes na escolha e sabes o quanto a escola pode tornar-se aborrecida e o que farão ao teu filho será apenas para entreter os outros. A verdade é que terá graça pois todos se irão rir. Faz parte… Faz parte da nossa cultura… Faz parte da escola…
Este exemplo deixou-te desconfortável não foi? Se a violência e humilhação ao teu filho for o mote para o entretenimento do pessoal, a coisa deixa de ter tanta piada não é? Sentiste uma revolta, não foi?
Pois… Quanto nos toca a nós ou aos nossos, a coisa fica diferente…
Quanto nos toca a nós, ou aos nossos, torna-se urgente que todas as pessoas olhem para o assunto e que sejam tomadas medidas com rapidez e eficácia.
Pois… Quanto nos toca a nós ou aos nossos, a coisa fica diferente…
Se calhar esta analogia é um pouco descabida, se calhar até não pois bullying é quando alguém numa situação vantajosa agride e humilha outro alguém.
Mas aqui estamos a falar de animais…
Sim, estamos a falar de animais, mas o que é que estamos a ensinar às nossas crianças? Que quando é para entreter vale tudo?
Se calhar a analogia não é assim tão descabida…
Então o que fazer?
Em primeiro lugar devemos apoiar e dar os parabéns quando, por exemplo, uma autarquia como a do Funchal proíbe espetáculos de circo com animais. O resto do país deveria seguir o exemplo de civilização e compaixão da Madeira. Para que isto aconteça devemos deixar bem claro aos nossos governantes que a Madeira é neste momento, a este nível, uma região bem mais civilizada que o resto de Portugal.
Em segundo lugar é fazer o que o meu filho me disse quando lhe mostrei o documentário que irá estar no fim deste artigo. Quando ele terminou de ver o vídeo disse-lhe:
– Percebes agora porque é que eu não gosto de circos com animais? O que é que achas do que vistes?
– Não gostei. É muito feio. Mas olha, a solução é muito fácil! Só temos de ir aos circos que não têm animais mas têm malabaristas, voadores e essas coisas assim.
A grande vantagem de viver num país capitalista é que se o povo estiver informado mesmo que o estado não atue as empresas e os empresários adaptam-se rapidamente ao que o público quer, logo se deixares de ir a circos com animais e ires a circos sem animais como o que esteve recentemente no Coliseu dos Recreios em Lisboa, os empresários circenses percebem que o negócio dos animais deixou de ser lucrativo e este morre por si.
Assim pedia-te que fizesses o favor, a mim, ao meu filho, ao teu e a um cem número de animais, de partilhar este artigo pois acredito que qualquer pessoa que tenha o mínimo de sensibilidade e compaixão, depois de ler este artigo e ver os vídeos e o documentário no fim, estou certo que não voltará a ir a um circo com animais e se os circos com animais perderem muito público e os fantásticos circos sem animais continuarem com público, o mercado irá ajustar-se por si.
Agradeço ao PAN pela informação prestada, nomeadamente a relativa ao Projeto Unchainmee cujos vídeos seguem abaixo.
Esta foi a minha contribuição de hoje para a Comunidade Pais Mais Ligados, agora quero ver a tua! Aproveita este artigo para manifestares a tua opinião ou até mesmo para abrires um debate sobre o tema. Acredito profundamente que te sirvo melhor se usar o meu tempo e energia a criar novos artigos que te ajudem a tornar numa Mãe ou Pai Mais Ligado. Por este motivo, não entrarei em debates nem poderei a responder aos comentários, mas eu leio todos e ficarei muito feliz em ler o teu. Se este artigo fez sentido para ti, por favor partilha.
Com amor,
António
Ainda no sábado me ofereceram bilhetes para ir ao circo. Não podia ir, mas expliquei que mesmo que pudesse não iria.
As últimas vezes que fui, há uns anos largos, a acompanhar as minhas primas pequenas, senti-me tão, mas tão desconfortável que jurei para nunca mais. Precisamente pelo número do palhaço rico / palhaço pobre (maus valores, mau exemplo) e dos animais. À entrada o vendedor de pipocas enfiava pacotes nas mãos das crianças, obrigando os pais retirar-lhes e devolver (sem que os pequenos percebessem o que tinha acontecido) ou a comprar porque era difícil retirar algo que lhes tinha sido “dado”.
Jurei que nunca mais iria. Fiquei com aversão a palhaços. Quando engravidei sempre disse que nunca levaria a minha a um circo desses e mantenho a minha palavra.
Obrigada por me mostrar que não estou sozinha.
Bom dia António, o artigo é sobre circo mas tudo começa com o tal suposto “convite” ou bilhete para a criança que depois também supostamente nos “obriga” a escolher o que na verdade não queremos. As escolas têm de parar com este abuso de aceitar e enviar para os pais publicidade disto ou daquilo nas suas mais variadas formas e pior através das nossas crianças. Isto só é possível se não houver a passividade dos pais e por vezes basta um para desencadear o Não de outros . Neste caso do circo se todos os pais que discordam se sentirem obrigados pelo menos uma vez a levarem o(a) filho(a) (quanto mais não seja com o argumento de que devam ver com os seus próprios olhos que os animais são maltratados) certamente que os animais do circo vão continuar a existir por muitos mais anos.