Muito se irá falar sobre o regresso da Cristina Ferreira à TVI e muitos lhe irão chamar de interesseira, de fria, calculista, de não ter amor à casa e outras análises superficiais do género.

Pouco se irá falar na verdadeira causa, causa essa transversal no panorama empresarial em Portugal.

Se a Cristina Ferreira não tivesse feito os movimentos que fez, ainda hoje seria uma ilustre mera co-apresentadora do Programa da Manhã da TVI.

Se queres trabalhar por conta de outrem em Portugal e ganhar mesmo muito dinheiro, não é inteligente manteres-te muito tempo na mesma empresa.

Desde a micro-empresa à multi-nacional é cultural reter ao máximo as compensações à ‘prata da casa’, bem como desvalorizar ideias disruptivas que essa mesma ‘prata da casa’ tenta apresentar.

Formações tendem ser apenas as obrigatórias por lei e formações de Desenvolvimento Pessoal não se sabe o que isso é, pelo que no máximo contrata-se um Palestrante Motivacional para dar um shot adrenalina, cujo efeito tende a durar, nos melhores casos, uma semana.

Por outro lado é também comum ‘pessoas de fora’ virem para as organizações com compensações muito acima dos High Performers existentes, com o propósito trazer ideias e metodologias novas para a empresa.

Quando um Colaborador de Alta Performance que está na empresa há um tempo considerável recebe um novo colega a ganhar muito mais que ele, facilmente conclui que a fidelidade não compensa.

A partir desse momento a desmotivação acontece e a saída é uma questão de tempo e coragem.

É sobre essa falta de coragem que as organizações se fiam, mas quando a coragem aparece e o High Performer sai é costume acontecer a patética conversa:

«Mas é uma questão de dinheiro? É que se é uma questão de dinheiro nós podermos ver isso…».

Quando uma organização faz uma contratação externa desajustada com o que paga às pessoas que actualmente cumprem essa função esquece-se que está a sinalizar várias coisas aos seus colaboradores, nomeadamente:

– Enquanto podermos pagar-te só isto, nunca te iremos pagar mais, pois acreditamos que és conformado e medroso o suficiente para não saíres daqui.

– Aqui só vais crescer até determinado ponto.

– Não somos capazes (ou não temos interesse) de desenvolver Profissionais de Alta Performance, é mais fácil ir buscá-los lá fora.

Artigo Relacionado: Alta Performance – O que é e como atingi-la?

Este não é um texto agradável de se ler, sobretudo se tiveres um cargo de responsabilidade numa organização, mas sabes tão bem ou melhor que eu que até ao aparecimento da pandemia um dos maiores desafios para as organizações era a Retenção de Talentos.

Acredito que este continuará a ser o grande desafio para as empresas e que, ao contrário do que muitos pensam, esta crise só irá agudizar este problema.

Se há coisa que as pessoas aprenderam com a crise de 2009 é que uma crise é uma excelente oportunidade para despedir pessoas. Não é por acaso que a Geração Z não tem qualquer fidelidade a empresas ou a marcas.

Não faz sentido ser fel a empresas quando nasceste em abundância e depois vês os teus pais perderem o emprego que supostamente era para a vida toda.

A crise que aí vem vai naturalmente fazer com que a grande maioria das pessoas faça o que tiver de fazer para manter o seu emprego e, tal como em 2009, irá sujeitar-se ao que o mercado lhes der.

A questão é que tal como o italiano Vilfredo Pareto dizia, aproximadamente 80% dos efeitos vêm de 20% das causas e como tal todas as pessoas são importantes, mas só 20% dos colaboradores é que fazem a real diferença nos resultados.

Os 20% são os que operam em Alta Performance.

A grande questão é que em 2009 o empreendedorismo era para malucos ou pessoas que não tinham ou não ponderavam as suas responsabilidades (família, créditos, estilo de vida, status, etc).

Em 2020 o empreendedorismo passou a ser sexy e os High Performers sentem disso.

Dificilmente uma empresa prospera sem pessoas a operar em Alta Performance num ambiente normal, num ambiente de crise uma empresa sem High Performers simplesmente não sobrevive.

A transformação da Cultura de Recursos Humanos existente na esmagadora maioria das organizações em Portugal para uma Cultura de Recursos Humanos de Desenvolvimento e Retenção de Talentos é tão ou mais urgente que a Transformação Digital.

Pode não ser tão sexy, mas é tão ou mais urgente.

A Cristina Ferreira é dos melhores exemplos de Alta Performance em Portugal e fez o que um High Performer faz.

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Estudou, trabalhou, agarrou oportunidades com unhas e dentes, trabalhou, trabalhou trabalhou, mostrou resultados, trabalhou, trabalhou, mostrou resultados, trabalhou, trabalhou, mostrou resultados

Após mostrar resultados demonstra à sua entidade patronal o seu valor de mercado, apresenta um projecto disruptivo e pede condições para implementá-lo.

A entidade patronal fez o que é cultural fazer-se em Portugal, a velha história do «Temos imensos planos para ti, temos a certeza que vais crescer muito cá dentro, mas nesta fase não temos disponibilidade para te darmos aquilo que estás a pedir.»

Só que a Cristina Ferreira é humana, por isso tem medos como todos nós, mas para além dos medos tem muita coragem e muito pouco conformismo.

Então com muita coragem, deu o salto da TVI para a SIC e agora da SIC para a TVI.

Às empresas cabe aprender com este episódio a desenvolver e não deixarem sair a sua ‘Cristina Ferreira’, que são os seu colaboradores de Alta Performance. Se és Empresário ou Empreendedor sugiro-te este episódio do meu Podcast Liberdade a Dois, onde exploro muito este tema. [ Link ]

Às pessoas que perdem o seu tempo a criticá-la, talvez seja mais produtivo modelarem a estrutura e aprenderem com a Cristina Ferreira como se faz.

Avança!

António

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